Há quase dois meses, a antiga
Penitenciária Feminina da Capital, de regime fechado, foi esvaziada, reformada
e transformada em unidade do semiaberto. A chegada das novas presas,
consideradas menos perigosas, deveria trazer mais tranquilidade às policiais
penais, mas o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional de São Paulo
(SIFUSPESP) denuncia que cinco delas foram ameaçadas de morte por detentas
ligadas ao PCC.
“Quando um novo presidio é
inaugurado, é comum que as presas tentem se impor diante das servidoras e
intimidá-las, mas isso é combatido com rigor na disciplina. O problema é que
recebemos informações de que a direção desta unidade tem deixado de registrar
faltas disciplinares, o que aumenta a tensão, provocando situações extremas
como as ordens para matar policiais penais”, afirma Fábio Jabá, presidente do
SIFUSPESP.
O plano de assassinato foi
descoberto depois que uma carta, trocada entre sentenciadas de diferentes
pavilhões, foi encontrada. No texto, uma das sentenciadas relata ter enviado a
comparsas da facção um pedido para assassinar as policiais, relacionando,
inclusive, os seus nomes.
Com a carta em mãos, as
servidoras procuraram a direção da unidade para que fosse instaurada uma
investigação interna. “Ao detectar uma falta com essa gravidade, a direção deve
transferir as presas envolvidas e abrir uma sindicância imediatamente, o que
pode causar o seu retorno ao regime fechado, mas, pelas informações que
recebemos, elas foram apenas transferidas de pavilhão”, comenta Jabá. Isso levou
as policiais a procurarem a Polícia Civil para registrar um boletim de
ocorrência, denunciando o problema.
CARTA COM AMEAÇA
Na carta descoberta pelas
policiais, uma sentenciada revela que repassou ao PCC os nomes das agentes que
deveriam ser executadas e afirma que espera que o homicídio aconteça durante a
próxima “saidinha”, para que ela esteja presente no momento do crime. “Isso é
considerada uma falta gravíssima, que pode fazer a Justiça tirar delas o
direito ao semiaberto. O problema é que a investigação só foi aberta depois que
levamos a denúncia à coordenação dos presídios na capital e ao secretário de
Administração Penitenciária. Uma ação que deveria ter sido tomada direto pela
direção da unidade”, denuncia Jabá.
ACESSO A FACAS
Após a denúncia, informa o
SIFUSPESP, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) retirou as
policiais ameaçadas do contato direto com as presas e determinou a investigação
do caso.
A detenta suspeita de ser a
autora da ameaça era uma das “boieiras”, como são chamadas as internas que
ajudam a servir as refeições às demais. “Isso aumenta o perigo, porque as
‘boieiras’ são classificadas como de ‘bom comportamento’ e por isso têm ainda
mais liberdade que as outras. Elas têm acesso à cozinha da unidade, portanto, a
facas e talheres, que podem ser usados como armas”, ressalta Fábio Jabá.
Segundo informado pelo SIFUSPESP,
após o registro do BO e a denúncia do Sindicato, foi instaurada uma apuração
interna para identificar outras sentenciadas ligadas à facção criminosa. Caso o
envolvimento com o crime organizado seja confirmado, elas também podem perder o
direito ao semiaberto e responder na Justiça por novos crimes.