- Ediwilson dos Santos –
No dia
24 de maio de 1973, a polícia de São Paulo prendeu um jovem com 19 anos de
idade, acusado de homicídios e tráfico de drogas. O Brasil estava no auge do
domínio militar. Não havia internet, nem metrô. Os meios de comunicação se
resumiam à televisão, rádio e imprensa escrita. As informações chegavam aos
poucos aos cidadãos, conforme os repórteres iam conseguindo permear a censura e
as barreiras impostas ao jornalismo nas delegacias.
Mas a
partir daquele dia, uma parte do Brasil começou a ter pesadelos com aquele
rapaz. A outra parte passou a idolatrá-lo, à medida em que a sua história ia
sendo contada.
Pedro
Rodrigues Filho teve a sua vida de crimes contada e recontada pela imprensa por
décadas. E até hoje exerce fascínio entre leitores assíduos da literatura
policial. É a personificação do termo frieza e a mais confiável tradução para
“total falta de empatia” com seus semelhantes, ou melhor descrevendo, vítimas.
Antes
de completar 15 anos de idade, Pedro Rodrigues Filho já havia assassinado três
pessoas a sangue frio. Ao ser preso, quando tinha 19 anos, ele já era apontado
como autor da morte de mais de 50 homens. Nos mais de 40 anos em que esteve na
cadeia, ele tirou a vida de outros 50. Com uma ficha policial assim, ele não
poderia ter outro apelido, se não Pedrinho Matador.
Pedro
Rodrigues Filho foi de longe o maior assassino da história brasileira. “Só
matei gente que não prestava”, afirma. Ele tinha preferência por matar a
facadas, porque, explica a Psiquiatria, era sempre pessoal. Matou pela primeira
vez entre 13-14 anos de idade. A vítima foi um primo, que havia lhe dado um
soco momentos antes. Pedrinho aproveitou um descuido dele, que passava cana
pelo moedor elétrico, e tentou jogá-lo dentro da máquina. Mas apenas o braço do
rapaz foi engolido. Enquanto o garoto gritava de dor e pedia socorro, Pedrinho
pegou um facão de cortar cana e dilacerou todo o resto do corpo da sua vítima
número 1.
Ainda
em Minas Gerais, a demissão do seu pai de uma escola fez Pedrinho matar mais
dois homens: o vice-prefeito da cidade, que determinou a dispensa, acusando o
pai dele de estar furtando merenda da escola, e um vigia, que era o verdadeiro
autor dos furtos.
Depois
desses três homicídios em MG, Pedrinho Matador fugiu para a Capital paulista.
Eram os anos 70 e a ascensão na criminalidade exigia brutalidade. E ele a tinha
sobrando. Matou um traficante e tomou a sua boca-de-fumo, assim como a viúva. E
passou a agir assim, matando rivais e dominando o tráfico em Mogi das Cruzes.
Sua companheira acabou morta durante uma operação policial. Pedrinho então
conheceu outra mulher, que havia feito viúva. Meses depois, numa disputa por
bocas-de-fumo, ela também acabou morta.
A sua
resposta foi cruel. Ao descobrir o autor da morte da sua segunda mulher,
Pedrinho Matador invadiu uma festa de casamento, onde estava o seu algoz, e
ordenou à sua quadrilha a execução de todos os homens. Mulheres e crianças
deviam ser poupadas. Na contagem final da polícia, sete homens foram mortos a
tiros e outros 16 ficaram feridos. E a vida de matador de Pedrinho nas ruas
chegou ao fim.
O PAI VIOLENTO
Pedro
Rodrigues Filho nasceu em 29 de outubro de 1954, em uma área rural de Santa
Rita do Sapucaí (MG). Além dele, os pais tiveram 12 filhos, 10 dos quais
mulheres. Ele nasceu com uma deformidade no crânio, causada em uma das sessões
corriqueiras de espancamento do pai contra a sua mãe, quando ainda estava na
barriga dela. Pedrinho cresceu vendo o pai bater covardemente, dia e noite, na
mãe e nas irmãs. E por isso, afirma ele, decidiu que passaria a vida protegendo
e vingando mulheres vítimas de espancadores e, principalmente, estupradores.
Quando
foi preso, em 1973, permaneceu meses quieto, até que em 1974, carcereiros
levaram para ele a notícia de que a sua mãe havia sido morta com 21 golpes de
facão. Pedrinho foi levado para ver o corpo no necrotério e alí, de joelhos,
prometeu vingança. Dias depois soube que o autor era o próprio pai e que, por
coincidência, ele estava na mesma prisão. “Promessa é promessa”, disse ele.
Para
cumprir sua promessa junto ao corpo da mãe, Pedrinho Matador conseguiu subjugar
um guarda da prisão, trancou-o em sua cela e retirou dele o revólver calibre
38. À cintura, trazia também a sua inseparável peixeira. Ele invadiu a cela
onde estava o pai e o matou com 22 facadas - uma a mais das que foram
desferidas em sua mãe -, contadas uma a uma pelo assassino. Depois, abriu o
tórax do pai, retirou o coração, mordeu e cuspiu um pedaço do órgão. A promessa
estava cumprida.
PESADELO DOS BANDIDOS
Pedrinho
Matador passou boa parte da sua vida carcerária isolado dos demais detentos,
onde quer que ele estivesse. Em seus primeiros anos de presidiário, sofreu
diversos atentados, mas sempre se saía bem. O mesmo não se pode dizer dos seus
agressores. Em uma dessas tentativas de mata-lo, um grupo de cinco homens o
atacou no horário de banho de sol, quando os reeducandos saem de suas celas. Os
demais presidiários cercaram a cena, esperando o massacre. Pedrinho matou três.
Os outros dois fugiram, vendo que ele não cansava, nem desistia de lutar.
O seu
histórico de matador de bandidos, principalmente daqueles presos por violência
contra crianças, mulheres e idosos, rendeu-lhe fama. Dentro da cadeia os
detentos passaram a exigir o seu isolamento, temendo serem mortos. Fora dos
muros das penitenciárias, milhares de pessoas o idolatravam, como se fosse um
vingador dos cidadãos mais frágeis.
Sempre
que a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo permitiu ele ser
entrevistado por jornalistas, Pedrinho Matador era bastante enfático ao afirmar
que o Judiciário não tinha a contagem exata das suas vítimas. Para o Estado,
ele matou 71 pessoas. “Mas foram mais de 100”, vangloriava-se ele. Este número
pode ainda aumentar. Pedrinho Matador jurou matar o ex-motoboy Francisco de
Assis Pereira, o estuprador e assassino em série que ficou conhecido como
“maníaco do parque”. A promessa, segundo ele, vale até o seu “último dia” de
vida. O maníaco do parque pode ser solto em 2030.
POR ONDE ANDA
Condenado
pela Justiça a uma pena de 126 anos em regime fechado, Pedrinho Matador seria
solto 30 anos depois, porque a legislação penal determina que ninguém pode
permanecer preso por prazo superior a este período. No entanto, por seus crimes
nas cadeias, teve sua condenação aumentada em mais quatro anos. Solto em 2007,
permaneceu livre até 2011, quando retornou ao cárcere, desta vez para cumprir
oito anos por motim, em acusação também do período em que estava preso.
Depois
de ser finalmente libertado, em 2018, após 42 anos preso, ele foi morar com
parentes e passou a ser comentarista de um canal no YouTube, onde dá a sua
opinião sobre crimes recentes no Brasil. Suas postagens rendem milhares de
visualizações. Hoje, ele tem 65 anos. É o homem que mais matou na história e o
que mais tempo permaneceu preso no Brasil.
Legenda – Pedrinho Matador em duas cenas da vida:
quando foi preso, em 1973, com 19 anos de idade, e, abaixo, em foto recente,
com 69 anos