- ATENÇÃO, os fatos descritos nesta série de artigos seguem pesquisas apuradas na internet, tendo como base de dados reportagens da época, investigações policiais e denúncias do Ministério Público, e podem incomodar os leitores mais sensíveis –
- Ediwilson dos Santos -
O
apelido Champinha virou adjetivo e sinônimo para crueldade no Brasil a partir
de novembro de 2003. Naquele ano, ele e mais quatro homens foram presos,
acusados de um dos crimes mais terríveis já noticiados pela imprensa
brasileira. Condenado inicialmente a uma pena de três anos, ele continua mantido
sob a tutela do Estado e assim deverá permanecer por muitos e muitos anos, para
a segurança da sociedade.
Aos 16
anos de idade, Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha, liderou um bando
que sequestrou, manteve em cárcere privado e matou os estudantes Felipe Silva
Caffé, de 19 anos, e a sua namorada, Liana Friedenbach, que tinha apenas 16
anos de idade. Durante longos cinco dias, Liana foi submetida à pior agressão
que uma mulher pode sofrer, sendo estuprada diversas vezes por Champinha e mais
três homens, até ser morta cruelmente no dia 5 de novembro.
UMA MENTIRA
Felipe
Caffé e Liana Friedenbach eram jovens estudantes e filhos de famílias de classe
alta da Capital paulista. Apesar de o namoro não ser bem aceito pela família
israelita de Liana, eles insistiram no romance e para manter o contato,
passaram a mentir para os pais. No dia 31 de outubro de 2003, uma sexta-feira,
Felipe disse aos pais que iria acampar com amigos em um sítio abandonado de
Embu-Guaçu. Já Liana contou para a família que passaria o fim de semana com
amigas do colégio em Ilhabela, no litoral paulista.
Os dois se encontraram a noite e
rumaram para a avenida Paulista, com mochilas. Dormiram embaixo do vão livre do
MASP, o Museu de Arte de São Paulo. Acordaram bem cedinho e às 5h já estavam na
rodoviária do Tietê, de onde pegaram um ônibus para Embu-Guaçu e depois outro,
para um bairro distante 45 quilômetros do Centro de São Paulo, onde
desembarcaram e andaram mais quase cinco quilômetros, até chegarem no lugar
onde pretendiam acampar até o domingo, dia 2 de novembro.
Na mesma
sexta-feira em que Felipe e Liana combinaram um fim de semana romântico, dois
moradores do lugarejo onde o casal pretendia acampar também estavam combinando
uma pescaria. Champinha e Paulo Cesar da Silva Alves, o Pernambuco, acertaram
de pescar em um lugar que, para chegarem, tinham que passar pelo sítio onde o
casal estaria. Dois jovens indefesos e dois sujeitos com tendências homicidas,
sem empatia pelo semelhante. Essa coincidência do destino resultou em um crime
brutal.
Já era
aproximadamente 10h de sábado, dia primeiro de novembro de 2003, quando Felipe
e Liana estavam com a barraca montada e conversando do lado de fora e Champinha
e Pernambuco passaram à caminho da pescaria. Os dois bandidos - confessaram
depois à polícia – de imediato planejaram roubar o casal na volta da pesca. Por
volta das 16h, quando os comparsas retornaram, encontraram Felipe e Liana
dormindo e anunciaram o assalto. Os jovens traziam pouco dinheiro e, neste
momento, passaram a ser ameaçados de morte, e foi aí que Liana revelou ser
filha de um bem sucedido advogado, afirmando que seu pai poderia pagar resgate.
O MARTÍRIO E O FIM
Champinha
e Pernambuco decidiram levar o casal como refém. Chegaram até a casa de Antônio
Matias de Barros. Lá, à noite, Liana foi violentada por Pernambuco. Na manhã seguinte,
domingo, os bandidos discutiram o futuro dos seus reféns. Acabaram concordando
que somente a menina era peça importante. E Pernambuco saiu com Felipe mata
adentro, onde o matou com um tiro na nuca. Depois disso, voltou para o cativeiro
e disse para a estudante que o namorado fora solto. Pernambuco fugiu da
localidade, sendo capturado dias depois na Capital.
Champinha
levou Liana até outra casa, pertencente a Antônio Caetano Silva. Outro homem,
Aguinaldo Pires, estava na casa e Champinha apresentou a adolescente como sendo
sua namorada. E a ofereceu para os dois. E eles aceitaram.
Ao
saber que a filha havia mentido, o pai de Liana fez a denúncia à Polícia Civil
e o Comando de Operações Especiais (COE) conseguiu chegar até o local onde os
estudantes haviam acampado no sábado. O irmão mais velho de Champinha viu a
movimentação policial no vilarejo e conhecendo a tendência criminosa do caçula,
saiu para procura-lo, encontrando-o pescando com os dois comparsas e a jovem
estudante, que estava em estado de inanição, certamente transtornada por tudo
que vinha sofrendo. Ele perguntou quem era e Champinha, de novo, disse que era
sua namorada. Liana não piscava, não movimentava os olhos e não falou uma
palavra. Estava em choque.
Champinha
manteve a jovem por mais um dia. Na madrugada do dia 5, uma quarta-feira, ele a
levou até o local onde Pernambuco havia assassinado Felipe. Com uma faca tipo
peixeira, tentou degolar a adolescente, mas não conseguiu e passou a desferir
vários golpes nela, que acertaram a cabeça, tórax, rosto, abdômen e costas. O
laudo do Instituto Médico Legal afirmou que Liana Friedenbach morreu por
traumatismo craniano, causado pelos golpes que Champinha desferiu na cabeça
dela com o lado cego da faca.
O DESFECHO
Os
corpos de Felipe Caffé e Liana foram encontrados cinco dias depois. Os
assassinos foram presos no dia 14. Champinha foi confinado em uma instituição
para menores, inicialmente por um período de três anos. No dia 20 de julho de
2006, Antônio Caetano foi condenado a 124 anos de prisão, Aguinaldo Pires a 47
anos e Antônio Matias a seis anos. Em novembro de 2007, foi a vez de Pernambuco
ser condenado a 110 anos de cadeia.
Mesmo
passados 17 anos do cumprimento da sua sentença inicial, Champinha continua
tutelado pelo Estado em uma Unidade Experimental de Saúde (UES), dividindo
espaço com criminosos clinicamente atestados com psicopatia, debilidade mental
e de extremo perigo para a sociedade. Sua defesa já tentou libertá-lo, mas
todas as petições foram negadas pelas Cortes Supremas de Justiça.
Dos quatro envolvidos no rapto e morte dos
estudantes, apenas Antônio Matias (primeiro da direita) não foi acusado de
participação direta, sendo condenado por ocultação de crime