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Demência e terror: Os irmãos necrófilos de Nova Friburgo

 - ATENÇÃO, os fatos descritos nesta série de artigos seguem pesquisas apuradas na internet, tendo como base de dados reportagens da época, investigações policiais e denúncias do Ministério Público, e podem incomodar os leitores mais sensíveis –

Ibraim e Henrique, os irmãos necrófilos que aterrorizaram a região de nova Friburgo na primeira metade dos anos 90 / foto internet



- Ediwilson dos Santos –

  

                Nunca uma história de crimes em série causou tanto pânico e mexeu tão aterrorizantemente com o imaginário de uma comunidade como os atos horrendos praticados pelos irmãos Ibraim e Henrique de Oliveira, os “irmãos necrófilos”, que na primeira metade dos anos 90 foram responsáveis por vários assassinatos brutais em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro. Eles torturavam, matavam, estupravam os corpos e, em algumas vítimas, estripavam, ou seja, abriam os corpos e deixavam as vísceras à mostra.

                Passados já quase três décadas, a população de Nova Friburgo ainda não esqueceu aqueles anos de pavor (o YouTube possui algumas reportagens atuais sobre os irmãos, com narrativas de vizinhos sobre a época dos ataques). Com certeza, alguns destes vizinhos ainda têm pesadelos com Ibraim e Henrique.

                Os irmãos necrófilos não respeitavam idade. Em sua trajetória insana, eles atacaram brutalmente uma criança de 11 anos, como também uma idosa de 67. A única preferência deles era pela cor: 99% das suas vítimas eram mulheres negras. E Ibraim e Henrique eram negros, filhos de pais negros. A criança de 11 anos citada no início deste parágrafo foi morta porque “xingou” Ibraim de negro, segundo a desculpa que ele contou à polícia ao ser preso. A menina era negra também.

               

OPRESSÃO DO PAI

                Vizinhos da família dos irmãos necrófilos narram que o pai de Ibraim e Henrique era um homem bastante cruel com todos da casa. Alcoólatra, não eram raras as vezes em que tarde da noite os irmãos, então crianças ainda, eram surrados por longos período e postos para fora da moradia.

                O vilarejo onde moravam, Janela das Andorinhas, era uma área rural encrustada na serra. Açoitados e expulsos rotineiramente de casa, os irmãos se embrenhavam na mata por semanas. Aprenderam a lidar com o medo da noite e passaram a dominar o terreno de toda a área, tão vasta quanto a 30 mil estádios de futebol. Exploraram as cavernas, onde dormiam, perderam o temor de animais e aderiram a uma dieta à base de frutas silvestres. Vez e outra, invadiam alguma moradia para furtar comida.

                E graças aos despejos comuns do pai, Ibraim e Henrique resolveram viver na mata, longe das surras e passaram a ser cada vez menos vistos. Quando apareciam, não traziam boas notícias: ou estavam caçando algum alimento, ou alguma vítima para matar.

 

AS VÍTIMAS

                Ibraim foi preso aos 16 anos, em 1991, após ser capturado e confessar o assassinato de uma menina de 11 anos. A vítima foi arrastada até um local ermo da mata, morta com um fio de arame, que quase decepou a sua cabeça, e o seu corpo violentado. Por ser menor de idade, ele foi solto ao completar 18 anos. A partir daí, a sua demência e sadismo tomou conta também de Henrique, dois anos mais velho.

                Durante quase três anos, os irmãos necrófilos passaram a aterrorizar a região. Com mulheres sendo mortas cada vez com mais frequência e a polícia tendo dificuldades para localizar os irmãos, boa parte dos moradores deixou o local e os que ficaram, se armaram. Mulheres, homens e adolescentes passaram a andar de revólveres, facas e espingardas à mão. Mas nem todos tiveram este cuidado.

                Duas dessas pessoas foram a mãe e a irmã caçula dos irmãos. Apesar de terem tido a vida poupada, ambas foram estupradas e espancadas pelos dois em 1994. No mesmo ano, invadiram a casa de uma tia, uma idosa, matando-a com dezenas de facadas, e depois estupraram o corpo. Em sua vagina, enfiaram um grande pedaço de madeira, que destruiu todos os seus órgãos internos.

                Em 1995, depois de alguns meses de calmaria na comunidade, os irmãos foram dados como mortos, ou imaginou-se que poderiam ter deixado a região. Um casal decidiu aproveitar os dias de carnaval e foi relaxar em uma das várias quedas d’água daquela área. O homem estava nadando a alguns metros quando viu a sua esposa ser atacada e outro jovem assistindo. Eram Ibraim e Henrique. Ele foi ao socorro da companheira, mas acabou agredido com um pedaço de madeira e morreu. Seu corpo também foi violentado. A mulher assistiu todas as cenas. E depois foi a sua vez de ser agredida, com pedradas, golpes de canivete e, por fim, estuprada por Ibraim, enquanto Henrique assistia e delirava de alegria. Depois de vários minutos de tortura, ela aproveitou um descuido dos irmãos e fugiu, conseguiu alcançar uma estrada de terra e encontrou alguns populares, que a socorreram e chamaram a polícia, mas os irmãos já haviam deixado o local.

                Semanas depois, Ibraim e Henrique invadiram uma casa bastante humilde, onde estavam uma dona de casa, grávida de sete meses, e o seu filho, de nove anos. O menino foi imediatamente agredido com violência, com golpes de madeira na cabeça. Ficou desacordado, foi socorrido com vida, mas morreu no dia seguinte. A mãe foi arrastada por alguns metros mata adentro, estrangulada com um fio de arame, teve o corpo estuprado, o seu ventre aberto à faca e suas vísceras e feto espalhados pelo local.

 

MORTE E CAPTURA

                O governo do Rio de Janeiro destacou quase 300 policiais militares para capturarem, vivos ou mortos, os irmãos necrófilos. Depois das mortes da mãe e do filho de nove anos, no dia 16 de dezembro de 1995 Ibraim foi visto por um morador após invadir uma casa. Os PMs foram avisados e uma caçada na mata teve início. Com o cerco, Ibraim acabou localizado e tentou atacar o mateiro, que o havia denunciado. Mas um oficial do Bope, a polícia de elite do RJ, atirou cinco vezes contra ele. O criminoso ainda conseguiu escapar, mas cinco horas mais tarde, seu corpo foi achado.

                Sem o seu irmão comparsa, Henrique ainda se manteve escondido na mata por seis meses. No dia 17 de junho de 1996, acabou se entregando para as autoridades do estado. Ele foi condenado a 34 anos de prisão. Hoje, ele está com 47 anos e por seu histórico de violência e demência, é provável que jamais sairá no sistema penitenciário, podendo ser transferido para um manicômio judiciário após cumprir 30 anos de cadeia.

 

Henrique, logo após entregar-se às autoridades, em junho de 1996


NÚMERO INCERTO E PAVOR

                Nem Henrique, nem a polícia, ou as autoridades judiciais sabem ao certo quantas pessoas foram mortas pelos irmãos necrófilos. Henrique foi condenado pela participação na morte de oito pessoas. Mas há a possibilidade de o número de vítimas ter chegado perto de 30.

                Ibraim e Henrique entraram no imaginário da comunidade onde viveram como ‘demônios’, ou filhos destes. Algumas pessoas afirmam terem visto os irmãos desaparecendo em meio a uma fumaça repentina. Mas tudo é imaginação. A realidade forense mostra que os dois sofriam de uma psicopatia coletiva, com Ibraim delirando inimigas mortais que deveriam ser mortas e Henrique envolvido na loucura do irmão.

 

VIROU FILME

                A caçada aos irmãos necrófilos virou enredo de filme. O longa “MACABRO” teve estreia nacional durante a 42a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em 2018, foi exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio e sua estreia internacional foi na competição oficial do Festival de Austin, no Texas, sendo premiado como melhor filme, na categoria “Dark Matters”. 

 

Cartazes espalhados pelas autoridades cariocas, oferecendo pela captura dos irmãos, vivos ou mortos, R$ 5 mil (equivalente a 45 vezes o salário mínimo da época, ou, quase R$ 60 mil em valor correspondente hoje)

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