Criada em 1954, e posteriormente
incorporada à Unesp, em 1976, a Faculdade de Odontologia de Araçatuba (FOA) se
destaca pela prestação de serviços à comunidade, por meio de uma série de
iniciativas como o Centro de Oncologia Bucal (COB), o Centro de Assistência
Odontológica à Pessoa com Deficiência (CAOE), o programa Primeiros Passos e o
Bebê Clínica, entre outros projetos de extensão. Além de retribuir o
investimento da sociedade na Universidade, iniciativas melhoram o ensino
oferecido aos alunos e fomentam pesquisas de alta qualidade científica.
“Esse atendimento é realizado
pelas clínicas e tem um impacto na cidade e na região de Araçatuba. Por meio
desses diferentes projetos, atendemos pacientes de todo o Departamento Regional
de Saúde (DRS) 2, que somam 40 municípios, e também outras cidades e estados”,
afirma o professor Alberto Carlos Botazzo Delbem, atual diretor da FOA. Entre
as pessoas beneficiadas pelos projetos, explica Delbem, estão pacientes com
câncer, com deficiência, as crianças e suas famílias, que podem ter acesso a
serviços que não são encontrados em outros centros, mesmo os particulares.
Embora o objetivo principal seja
o bem-estar dos pacientes, os projetos de extensão trazem benefícios para o
ensino dos alunos da graduação, da pós-graduação e para os residentes. Isso
porque um dos objetivos principais da FOA é formar um profissional que atenda
aos pacientes não somente no que se refere à saúde bucal, mas de forma
integral, olhando para todos os contextos, inclusive o psicológico e o social.
Delbem explica que essa é uma
característica que pode ser vista inclusive nos programas de pós-graduação da
FOA. O diretor cita os mestrados nas áreas de Cirurgia e Traumatologia
Bucomaxilofacial, Dentística, Estomatologia, Implantodontia, Periodontia,
Prótese Dentária, Biomateriais, Endodontia, Saúde Bucal da Criança e Odontologia
Preventiva e Social. O diretor complementa que existem ainda especializações em
áreas complementares à Odontologia, como Psicologia e Saúde e Saúde Coletiva.
Delbem argumenta que olhar o
paciente de forma integral faz com que o atendimento acabe sendo mais
humanizado. Com toda a sua formação acadêmica realizada na FOA, o diretor se
recorda de pelo menos duas situações que o marcaram profundamente pelo impacto
do tratamento humanizado ao paciente. A primeira foi o episódio de uma mãe com
um bebê de três dias de vida que procurou o projeto Primeiros Passos pois não
estava conseguindo amamentá-lo. O segundo episódio foi uma mãe que buscou o
serviço com um recém-nascido de 20 dias, que foi diagnosticado com torcicolo
congênito e assimetria craniana, questões que podem impactar o desenvolvimento
motor e prejudicar a qualidade de vida da criança.
Em ambos os casos, a equipe
multidisciplinar ganhou a confiança da família e orientou sobre o melhor a ser
feito. No primeiro caso, foi preciso tratar a língua presa do bebê e, após esse
procedimento, a amamentação tornou-se fácil. No segundo caso, a mãe foi
ganhando segurança e percebendo que podia contar com o apoio dos profissionais,
e que, portanto, não estava sozinha. “Passados 15 dias, a reavaliação trouxe resultados
surpreendentes: o bebê superou as dificuldades iniciais, passou a ganhar peso
adequadamente e a amamentação se estabilizou. A assimetria craniana começou a
mostrar sinais de melhora, resultado direto do esforço conjunto e das
orientações recebidas”, recorda o diretor.
CAOE
O CAOE funciona com portas
abertas inclusive para pessoas de fora do DRS de Araçatuba, sendo um dos poucos
lugares no Brasil que atendem pessoas com deficiências físicas, intelectuais e
neurológicas. O centro oferece todo o suporte para a execução dos procedimentos
necessários, inclusive com a parceria da Santa Casa de Araçatuba, para os casos
em que é necessário sedar ou aplicar anestesia geral nos pacientes.
Os números de atendimento à
população do projeto são expressivos: apenas em 2024, foram realizados 2.739
atendimentos e 1.870 assistências somente pela equipe multidisciplinar, uma
média de 12,6 por dia. Já a equipe odontológica realizou no ano passado 3.726
consultas de diversas especialidades, como ortodontia e próteses.
A equipe do projeto é
multiprofissional, contando com médicos, enfermeiros e assistente social, além
dos cirurgiões dentistas e do trabalho dos alunos de graduação e pós-graduação.
“Não existem outros centros que atendam esse tipo de paciente, então se nós
fecharmos as portas, a pessoa vai ficar sem atendimento”, afirma a professora
Karina Helga Turcio de Carvalho, supervisora do CAOE.
A docente reforça que a
assistência às pessoas com deficiência é muito importante e desafiadora para a
formação do profissional. “O aluno precisa manter a qualidade do atendimento
que ele aprendeu no curso, mas se adequar àquela realidade. Dessa forma, o
estudante começa a entender que a odontologia não se resume apenas aos dentes,
mas se trata de todo um sistema, um organismo, e que envolve inclusive o
comportamento do paciente”, afirma.
Além do tratamento necessário, o
CAOE também atua com a prevenção. O Centro recebe crianças com deficiência e
orienta pais e cuidadores desde cedo com relação aos cuidados necessários para
uma saúde bucal adequada, para diferentes perfis de pacientes. “Nos adultos com
deficiência, principalmente aqueles com questões moderadas a severas, nós
notamos que eles têm saúde bucal muito reduzida”, explica a supervisora.
“Existe uma dificuldade de higienização. É uma prática difícil para a família,
seja por falta de conhecimento ou mesmo pela falta de incentivo”, afirma. Para
a professora, ensinar a quem cuida da criança com deficiência como deve ser
feita a higienização é uma medida fundamental desde os primeiros anos de vida,
a fim de evitar problemas de saúde futuros.
É também no Centrinho que os
residentes em Odontologia Hospitalar - Pacientes com Necessidades Especiais
aprendem e realizam seus atendimentos.
COB
O Centro é responsável por
atendimentos especializados do câncer de cabeça e pescoço, especialmente o
câncer de boca. A estrutura conta com uma equipe multidisciplinar, com médicos,
profissionais de enfermagem, fonoaudióloga, psicóloga e fisioterapeuta, além da
equipe de odontologia. Assim como o CAOE, no centro são atendidos os 40
municípios que compõem o DRS de Araçatuba.
Em 2024 foram prestadas 11.158
assistências, que envolveram diversas frentes de trabalho, como fisioterapia,
enfermagem, prótese ocular e biópsias. ”Nós somos a única faculdade de
odontologia que oferece o serviço especializado no tratamento de tumor. Isso é
importante porque nosso aluno acaba tem contato muito cedo com uma equipe
multidisciplinar e acaba aprendendo a trabalhar dessa forma”, explica a
professora Aline Satie Takamiya, responsável pelo COB, que também tem uma
parceria estabelecida com a Santa Casa de Araçatuba.
A docente considera a formação de
profissionais capacitados para atender pacientes oncológicos algo essencial,
uma vez que têm aumentado os casos de câncer na população em geral. Do ponto de
vista dos profissionais da saúde, este perfil de paciente precisa de uma
assistência diferenciada. “É uma forma da gente devolver para a sociedade
aquilo que ela investe na Universidade”, afirma a docente.
Um dos objetivos dos
profissionais que atuam no COB é fazer a detecção precoce das lesões
potencialmente malignas e cancerígenas, o que ainda é uma dificuldade, pois
muitas vezes esses pacientes são encaminhados de suas cidades com câncer em
estágio avançado.
Primeiros passos
Por meio do programa Primeiros
Passos, a FOA atende bebês que acabaram de nascer, realizando o teste da
linguinha, para identificar se o recém-nascido tem anquiloglossia (popularmente
conhecida como “língua presa”).
Desde o início do projeto, em
2023, mais de 500 famílias foram atendidas e encaminhadas pelo SUS após o teste
da linguinha, quando foi identificado o freio lingual alterado. “A equipe
avalia a presença ou não do freio no paciente e se há alguma dificuldade de
amamentar, pois o objetivo é manter a criança no peito e não passar para a
mamadeira ou fórmulas”, explica o diretor Alberto Carlos Botazzo Delbem, que
também é responsável pelo projeto. Delbem explica que nesse processo também se
avalia a simetria crânio-facial e o torcicolo, que é uma alteração do músculo
que faz com que a criança permaneça em uma posição que dificulta a
amamentação”, afirma Delbem.
O professor explica que quando o
torcicolo é identificado nos primeiros três meses de vida, a condição pode ser
revertida com alguns tratamentos simples, e o programa faz esse tratamento. Se
necessário, também é realizada a cirurgia do freio, além de orientações para
tornar a amamentação mais fácil e duradoura. “Todo esse procedimento é
realizado visando esses primeiros momentos de vida da criança, para que seja
mantida a amamentação, e o bebê siga o seu desenvolvimento da forma mais
natural possível”, destaca.
Após esse primeiro momento, os
pacientes são encaminhados para a Bebê Clínica, onde passam por acompanhamento
dos 6 meses aos 5 anos de idade, para prevenção e tratamento de cáries. No
projeto também são realizadas consultas periódicas para orientações, limpeza e
aplicação de flúor. Delbem destaca que a assistência dada à criança não se
restringe apenas ao paciente, mas acaba alcançando a família inteira. “O que
nós identificamos no projeto é que. por meio das orientações transmitidas para
o cuidado com o bebê, a família toda passa a se cuidar melhor”, pontua o
professor.
Pesquisas
Outro ponto forte da Faculdade de
Odontologia de Araçatuba são as pesquisas desenvolvidas na unidade. A estrutura
conta com um centro de procriação de macacos que são utilizados nas pesquisas,
mas que não sofrem qualquer tipo de sacrifício.
Um ponto importante é a relação
entre os projetos à comunidade e a pesquisa científica realizada na FOA. Isso
porque os projetos de extensão que realizam atendimentos aos pacientes acabam
fornecendo dados e informações que podem ser aplicados à pesquisas sobre os tumores
de cabeça e pescoço.
Ao mesmo tempo, empresas
estabelecem parcerias com a faculdade para o uso de produtos pelos pacientes,
fornecendo material para análises posteriores. Nesse caso, a maioria dos
pacientes são voluntários e contactados pelas empresas fora dos projetos de
extensão.
“Antigamente, a faculdade tinha
uma visão mais restaurativa da odontologia. Hoje essa visão é muito mais
preventiva, mas sem deixar de inovar, por exemplo, na questão de materiais,
como as próteses”, explica Delbem. “Trabalhamos com diversos materiais, como
próteses oculares e para pessoas que perderam nariz ou orelha”, destaca o
diretor, lembrando ainda a atuação da FOA no desenvolvimento de produtos como
cremes dentais.
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