Publicado na última semana pelo governo federal, o Decreto nº 12.686/2025, que institui a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva, tem gerado reações críticas de parlamentares e instituições ligadas à educação especial em todo o país.
O
documento é entendido como uma ameaça às escolas especializadas que atendem
estudantes com deficiência com demandas de suporte educacional intensivo, como
as Apaes, entidades amplamente difundidas pelo Brasil.
O texto prevê
que todas as matrículas sejam direcionadas às escolas regulares, o que, segundo
especialistas, pode resultar no esvaziamento e até fechamento dessas
instituições que, há décadas, garantem atendimento pedagógico associado a
terapias que muitas redes de ensino não conseguem ofertar.
Para o pesquisador
Lucelmo Lacerda, doutor em educação e pesquisador na Universidade da Carolina
do Norte (EUA), o decreto contraria a legislação vigente, ignora evidências
científicas e pode prejudicar diretamente as crianças que mais precisam de
apoio intensivo.
Segundo
Lacerda, além do risco de desassistência, o decreto retira das famílias o
direito de escolher o modelo educacional que melhor atende às necessidades dos
filhos, impondo um formato único que não contempla estudantes com maior
comprometimento, como autistas de nível 3 e pessoas com deficiência intelectual
severa.
A norma também
estabelece apenas 80 horas de capacitação para professores, sem exigir formação
específica, o que preocupa especialistas diante da complexidade desses
atendimentos.
A reação
política já chegou ao Congresso Nacional. No Senado, o senador Flávio Arns
(PSB-PR) apresentou o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 845/2025, que busca
suspender os efeitos da medida, por entender que ela impõe a inclusão
obrigatória em classes comuns, sem considerar a necessidade do AEE contínuo em
muitos casos.
Na Câmara dos
Deputados, mais de 20 PDLs já foram protocolados para sustar o decreto, por
parlamentares de diferentes partidos, reforçando a preocupação de que a nova
norma provoque um colapso na educação especial brasileira.
A mobilização
de entidades, especialistas e parlamentares segue crescendo para impedir que a
nova política resulte no desmonte de uma rede de atendimento essencial e deixe
milhares de crianças e adolescentes sem o suporte necessário para aprender, se
desenvolver e se comunicar com o mundo.
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